Em relação ao
tratamento medicamentoso, temos atualmente algumas medicações que
comprovadamente promovem melhora da doença hepática gordurosa não alcoólica, e
algumas outras que ainda não tiveram sua eficácia cientificamente comprovada,
demonstrando melhora em alguns estudos e não em outros, de forma que até o
momento não sabemos do real papel delas no tratamento desta condição. Dentre os
medicamentos que comprovadamente promovem melhora da esteatose hepática, temos
os exemplos do orlistat, da metformina, das glitazonas, das estatinas e da
N-acetilcisteína.
O Orlistat é
um medicamento inibidor da lípase gástrica e pancreática. Inibe cerca de 30% da atividade destas
enzimas, de forma a reduzir com isso a digestão e a absorção das gorduras
ingeridas na dieta. Com isso, auxilia a perda de peso e a redução do nível lipídico.
Como consequência, já foi demonstrado que seu uso contínuo é capaz de melhorar
a resistência à insulina e até de reduzir a progressão de pré diabetes para
diabetes. Como consequência do menor peso, do menor de teor de gorduras no
sangue e da melhor ação insulínica que ocorrem na vigência do uso desta
medicação, ocorre então melhora comprovada do teor de gorduras dentro do
fígado.
Já o
medicamento que possui o melhor efeito sensibilizador à ação da insulina dentre
todos disponíveis atualmente, diminuindo a resistência a ela, é a metformina.
Seu uso promove melhor ação tecidual da insulina no seu receptor,
principalmente a nível hepático, e com isso traz comprovada melhora na redução
do depósito de gordura no fígado e, como consequência, redução de sua
inflamação e do nível das transaminases hepáticas nos casos de esteatohepatite.
As transaminases são enzimas que catalisam reações de transaminação (como a
aspartato aminotransferase (AST) e alanina aminotransferase (ALT), que são
enzimas presentes no fígado). Estas enzimas são liberadas no sangue quando há
danos à membrana do hepatócito. A causa mais comum de moderadas elevações
destas enzimas é o fígado gorduroso.
As glitazonas
são outra classe de medicamentos que também atuam reduzindo a resistência
periférica a insulina, e portanto também podem ser úteis no tratamento da
esteatose hepática. No entanto, por atuarem principalmente na resistência
muscular e um pouco menos na resistência hepática, sua contribuição no
tratamento da esteatose hepática é um pouco menor do que a contribução da
metformina.
As estatinas,
por sua vez, são inibidores da HMGCoA redutase, agem reduzindo os níveis
séricos de colesterol (principalmente LDL, mas também triglicérides em menor
quantidade), e desta forma contribuem também para a menor infiltração gordurosa
do fígado.
A
N-acetilcisteína é uma medicação que, ao aumentar os níveis séricos de
glutationa, consegue reduzir o stress oxidativo e com isso reduzir o quadro
inflamatório hepático produzido pelo acúmulo de gordura dentro deste órgão.
Além dos
medicamentos acima citados, que são atualmente comprovadamente benéficos no
tratamento da doença hepática gordurosa não alcoólica, há ainda uma série de
outras drogas em estudos, cujo real papel ainda não foi identificado. O uso de
vitamina C, vitamina D, vitamina E, betaína, pentoxifilina e ômega 3 são alguns
exemplos de medicamentos com potencial ação antioxidante que poderiam
teoricamente trazer algum benefício no tratamento da esteatose, mas cujos
estudos científicos ainda não conseguiram comprovar benefício inequívoco até o
momento.
Finalmente,
estudos mostram que o uso do ácido ursodesoxicólico, que é um ácido biliar
fisiologicamente presente na bile humana, parece trazer também melhora nas
condições do fígado gorduroso.
Conclui-se,
portanto, que grande parte do tratamento da doença hepática gordurosa não
alcoólica está baseado na melhora ou reversão das condições que levaram ao seu
aparecimento, como a obesidade, a alimentação gordurosa, o sedentarismo, a
resistência insulínica, o diabetes e a dislipidemia. Medicamentos específicos
também podem ser utilizados visando melhora desta condição, mas todos estes se
baseiam no tratamento de seus fatores de risco, ou em última instância se
baseiam na redução do stress oxidativo, visando reduzir a inflamação
proporcionada pelo excesso de gordura já depositado. Ou seja, prevenir parece ser
realmente o melhor remédio.
Referências bibliográficas:
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2095707/Post por Mayra Bespalhok