terça-feira, 28 de maio de 2013

AVALIAÇÃO CLÍNICA PARA O DIAGNÓSTICO DE ESTEATOSE-HEPÁTICA NÃO ALCOÓLICA

               


            Visando a obtenção de um correto diagnóstico da doença hepática gordurosa não alcoólica (NAFLD), o profissional de saúde deve utilizar alguns recursos como uma detalhada anamnese (entrevista clínica com o paciente, investigando a presença de fatores de risco para este acometimento, presença de sintomatologia compatível e de outras comorbidades que aumentem o risco da NAFLD). A anamnese deve ser complementada com exames laboratoriais e com exames de imagem. Os exames laboratoriais são capazes de identificar a presença de outras comorbidades que possam aumentar o risco de NAFDL (como dislipidemias, disglicemias, resistência a insulina), além de poderem demonstrar o aumento de enzimas hepáticas, caso a esteatose hepática já tenha evoluído para uma doença um pouco mais avançada chamada esteato-hepatite (que é quando a gordura hepática estimula um processo inflamatório dentro do fígado, levando à morte de hepatócitos e liberação de suas enzimas para a corrente sanguínea). Já os exames de imagem são capazes de demonstrar a presença de sinais macroscópicos do depósito de gordura dentro do fígado, podendo inclusive, dependendo do tipo de exame, quantificar este depósito de gordura.
            Em relação aos exames laboratoriais, geralmente os pacientes com EHNA têm muito menos evidências bioquímicas de doença hepática do que os pacientes com hepatite alcoólica. Para se fazer a avaliação laboratorial hepática, solicita-se o hepatograma, que é um conjunto de análises que identifica alterações na função do fígado, consistindo na dosagem das seguintes substâncias: TGO, TGP, Fosfatase alcalina, Gama GT, 5' nucleotidase, Bilirrubinas, TAP, TP, Albumina.
            Enquanto a TGP e TGO são usadas para se avaliar lesões das células do fígado, a fosfatase alcalina, Gama GT e a 5`nucleotidase são enzimas que se elevam quando há lesão das vias biliares. As bilirrubinas, por sua vez, são proteínas derivadas do metabolismo da hemoglobina, que são geralmente metabolizadas pelo fígado (que transforma a bilirrubina indireta em direta, e depois transporta esta bilirrubina para dentro dos canalículos biliares, onde será eliminada pela bile). Em situações de comprometimento hepático, este transporte da bilirrubina direta para os canalículos biliares fica prejudicado, de forma que ocorre então acúmulo principalmente da bilirrubina direta.
            Já a albumina, TAP e TP nos demonstram como está a função de síntese protéica dos hepatócitos, e, portanto estes exames só se mostram alterados quando a lesão hepática já está na sua fase mais avançada, chamada de cirrose hepática. Nesta fase, o fígado não consegue mais sintetizar adequadamente proteínas como a albumina e proteínas da coagulação, causando redução da albumina e aumento do INR (que reflete como está a coagulação sanguínea).
            As alterações laboratoriais mais frequentemente encontradas são elevações de TGO e TGP. A TGO é uma enzima presente também nas células dos músculos e do coração, enquanto que a TGP é encontrada quase que somente dentro das células do fígado. A TGP é, portanto, muito mais específica para doenças do fígado que a TGO. Estas enzimas são muito importantes no diagnóstico diferencial entre a doença hepática gordurosa alcoólica e a doença hepática gordurosa não alcoólica, uma vez que na
EHNA costuma haver um aumento principalmente da TGP, enquanto que na doença hepática de origem alcoólica, o aumento costuma acontecer principalmente com a TGO. Um paciente com quadro de doença hepática gordurosa de etiologia ainda não definida que apresente elevação de TGO maior que a de TGP, provavelmente terá uma doença hepática causada por álcool.
            Uma vez realizada a avaliação laboratorial, parte-se então para o próximo passo da investigação, que consiste na avaliação do paciente por exames de imagem. A ultrassonografia é o procedimento mais comumente utilizado, por ser um método simples e menos invasivo. Na grande maioria das vezes, a ultrassonografia será suficiente para estabelecer este tipo de diagnóstico muito bem, uma vez que sua especificidade é muito boa. No entanto, sabe-se que este exame possui uma limitação de sensibilidade, uma vez que só é capaz de identificar acúmulo de gordura maior que 30% nos hepatócitos. Já a tomografia computadorizada é método um pouco mais sensível do que a ultrassonografia para o diagnóstico de esteatose hepática, podendo, no entanto, apresentar alguma inespecificidade consequente à interferência de fatores que aumentam a densidade hepática (doenças metabólicas, por exemplo). Nesta situação, a ressonância magnética é especialmente útil, uma vez que além de ser o exame de imagem com maior sensibilidade e maior especificidade para este tipo de diagnóstico, é um exame capaz inclusive de fazer a quantificação de células adiposas no fígado.
            A biópsia hepática por sua vez, é o exame padrão ouro para o diagnóstico de doença hepática gordurosa não alcoólica. No entanto, por ser um exame muito invasivo e provido de riscos, a biópsia será indicada apenas em casos muito selecionados, quando o diagnóstico da doença ainda permanecer duvidoso mesmo após toda a investigação explicada acima.




Referencias bibliográficas:

                                                                                         Post por Júlia Zenni


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