A
esteatose hepática de origem não alcoólica geralmente é uma doença
assintomática e, portanto, o diagnóstico acaba sendo muitas vezes tardio, em
fases, as vezes, já avançadas da doença, como nas fases de esteato-hepatite ou
até de cirrose hepática.
Para
evitar que o diagnóstico ocorra de forma tão tardia é importante que o
profissional da área da saúde faça uma boa e detalhada anamnese, que é a entrevista realizada pelo profissional de saúde com o seu paciente durante a consulta
clínica. A anamnese, neste caso, tem como objetivo principal detectar todos os
fatores de risco presentes na vida do paciente que possam aumentar o risco de
ele ser um portador da doença hepática gordurosa não alcoólica, além de avaliar
eventual presença de sintomatologia clínica que possa ser compatível com esta
doença.
Como
exemplo de fatores de risco para a doença hepática gordurosa não alcoólica
temos a presença da obesidade, o aumento da circunferência abdominal (> 90
cm nos homens e > 80 cm nas mulheres), as dietas hiperlipídicas, as
dislipidemias, a hipertensão, a hiperuricemia, a presença de tabagismo, a
apneia do sono, o uso de medicamentos tais como corticoides anticoncepcionais,
imunossupressores ou outros que aumentem o risco de depósito de gordura no
fígado, a história pessoal ou familiar de diabetes mellitus tipo 2 ou de resistência a insulina e a história familiar
de esteatose hepática. Além disso, é necessário pesquisar sempre se há ou não o
abuso de álcool (> 20g/d de álcool para homens ou > 10g/d de álcool para
mulheres) para permitir o diagnóstico diferencial entre doença hepática gordurosa
alcoólica da não alcoólica.
Ainda
dentro da anamnese deve-se pesquisar ainda a presença ou não de sintomatologia
que possa ser compatível com esta doença, como a presença de dor ou desconforto
em hipocôndrio direito, náuseas, hiporexia, dispepsia, fadiga, fraqueza e mal
estar geral.
Após
a anamnese, o próximo passo da investigação é o exame físico completo do
paciente. Um ponto crucial no exame físico do paciente é a palpação hepática,
buscando-se identificar a presença ou não de hepatomegalia (aumento do
tamanho do fígado), lembrando que esta palpação pode estar prejudicada nos pacientes
obesos ou sobrepesos, já que a grande espessura da camada de tecido adiposo
pode dificultar a palpação do fígado no interior do abdômen. Deve-se estar
sempre atento para o achado de acantose nigricans
no exame físico. A acantose nigricans
é caracterizada pela presença de uma pele mais espessa, mais escura e aveludada
nas regiões de dobras do corpo como as axilas e a região cervical. É um sinal
muito específico e valioso de resistência a insulina, e, portanto, sua presença
no exame físico já nos deve fazer pensar na presença de consequências da
resistência a insulina naquele paciente (como a presença da doença hepática
gordurosa não alcoólica).
Depois
de terminada toda esta investigação (anamnese + exame físico), pode-se ter uma
estimativa da probabilidade do paciente ser ou não um portador de esteatose
hepática. Baseado nesta probabilidade deve-se prosseguir à investigação com
exames laboratoriais e exames de imagem naqueles pacientes de maior risco.A
avaliação laboratorial dos pacientes de risco para esteatose hepática deve
incluir a dosagem das enzimas hepática (TGO, TGP, Gama GT, fosfatase alcalina)
e a curva glicêmica-insulinêmica, para avaliação da presença ou não de
resistência a insulina. Deve-se sempre lembrar, no entanto, que a presença de
enzimas hepáticas normais não exclui o diagnóstico de doença hepática gordurosa
não alcoólica, uma vez que que estas enzimas só ficam aumentadas na fase de
esteato-hepatite (que é a segunda fase do processo, para a qual evoluem apenas cerca
de 20% dos pacientes que começam com o quadro de esteatose hepática).
Finalmente,
os exames de imagens são o último passo para o diagnóstico. O exame de imagem
mais solicitado para o diagnóstico de esteatose hepática é a ultrassonografia de abdômen, pelo fato de ser um
exame simples, barato e não invasivo. No entanto, deve-se ter em mente que a
ultrassonografia de abdômen detecta apenas quantidade de gordura hepática maior
que 30% (considera-se patológica concentrações de gordura apartir de 5%). Portanto,
no caso de exames normais em pacientes com uma alta suspeita de esteatose,
deve-se prosseguir à investigação com exames de maior sensibilidade, como a
tomografia computadorizada ou a ressonância magnética de abdômen. A ressonância
magnética é o exame de imagem mais sensível e mais específico para o
diagnóstico de esteatose hepática, pois consegue aferir a quantidade exata de
gordura dentro do fígado. Já o exame ‘’padrão ouro’’ para este diagnóstico
seria, na verdade, a biopsia hepática. Por meio deste exame retira-se um pequeno
pedaço do fígado, por meio de uma punção com agulha e avalia-se as células
hepáticas pelo microscópio, conseguindo verificar, assim, a presença de gordura
e de inflamação dentro do fígado. No entanto, por ser um método muito invasivo,
deve ser indicado apenas em casos muito específicos, como casos com quadros
muitos avançados, sem melhoras após as medidas instituídas ou quando o
diagnóstico de doença hepática gordurosa não alcoólica é colocado em dúvida.
Assim,
percebemos que, na verdade, o diagnóstico da doença hepática gordurosa não
alcoólica deve compreender uma anamnese detalhada, um exame físico completo, a
avaliação laboratorial adequada e a complementação com exame de imagem, que na
grande maioria das vezes irá selar o diagnóstico, sem a necessidade da biópsia
hepática.
Referencias bibliográficas:
Post por Júllia Zenni
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