sexta-feira, 12 de julho de 2013

COMO A ATEROSCLEROSE PODE SER RELACIONADA COM A ESTEATOSE HEPÁTICA NÃO ALCOÓLICA

     

     Como já foi abordada anteriormente, a doença esteatose hepática gordurosa, na maioria das vezes surge de distúrbios do metabolismo, como por exemplo, a resistência á insulina, a qual foi explicada minuciosamente anteriormente.

     A resistência à insulina é comum em diabéticos, obesos e portadores de outras doenças relacionadas com o metabolismo, pois a insulina é um hormônio que regula diversas funções no organismo, entre elas a função de avisar as células de que há glicose em excesso no sangue, promovendo então a utilização da mesma e o acúmulo do excedente em forma de glicogênio no fígado e a produção e acúmulo de lipídeos, principalmente no tecido adiposo. 

    Desta forma, na resistência à insulina, a quantidade de insulina produzida no organismo passa a ficar aumentada, tentando compensar o problema já que as células diminuem a sua capacidade de detectá-la. Assim, os tecidos do organismo se comportam como se houvesse pouca insulina, mesmo que a sua quantidade esteja aumentada, e invertem o processo de acúmulo para o de liberação de energia, como se houvesse falta de açúcar no sangue (mesmo que esta também esteja em excesso).

   O resultado é que as gorduras acumuladas no tecido adiposo em forma de lipídeos são quebradas e transformadas em ácidos graxos para a sua utilização como fonte de energia. Ou seja, a lipólise periférica fica muito exacerbada, havendo liberação de grande quantidade de ácidos graxos livres no plasma. Este excesso de ácidos graxos será captado e acumulado no fígado, como uma defesa do organismo no sentido de reduzir o acúmulo destes nos vasos sanguíneos, já que este acúmulo pode levar à formação de placas de gordura nas artérias (aterosclerose), que por sua vez pode levar a diversas outras doenças, como infartos cardíacos ou cerebrais.
                                  

     Para entender melhor por que ocorre este acúmulo de gorduras na corrente sanguínea, é preciso saber como se dá o ciclo dos triglicerídeos no nosso organismo. Após uma refeição, os triglicérides ingeridos na dieta são 'empacotados' pelas células da mucosa intestinal em partículas de lipoproteína chamadas quilomícrons, que são partículas cuja finalidade é transportar lipídeos pela corrente sanguínea, principalmente triglicérides e colesterol, passando por diversos órgãos e tecidos até chegarem ao fígado. Os quilomícrons, enquanto circulam na corrente sanguínea, vão sendo metabolizados pela enzima lipase lipoproteica, presente nos capilares. A lipase lipoprotéica quebra as moléculas de triglicérides em ácidos graxos livres.                                
      Os ácidos graxos, por sua vez, podem ficar livres no sangue ou podem ser incorporados aos adipócitos e novamente esterificados com glicerol, voltando a formar triglicérides, que são então armazenados dentro do tecido adiposo como forma de estoque energético.
      Ao chegarem no fígado, as partículas de quilomícrons serão então quebradas, e seus componentes serão reaproveitados para a síntese de um novo tipo de partícula que também tem como função ser uma fonte de energia para as células: as VLDL. As VLDL são então exportadas para a circulação pelo fígado, sendo uma oferta de triglicérides para utilização pelas células (ou para estoque pelos adipócitos).
      Quando comparadas aos quilomícrons, as VLDL são mais densas e com maior proporção de proteína. São sintetizadas basicamente no fígado para exportação de triglicérides para os tecidos, especialmente o tecido adiposo. Ao passar pelos capilares, boa parte dos triglicérides são retirados pela enzima lipase lipoproteica, de modo que a partícula fica menor, mais densa, e mais rica em colesterol.
      As LDL, por sua vez, são um terceiro tipo de lipoproteína. Estas são ricas em ésteres de colesterol, e são a principal forma de distribuição de colesterol aos vários tecidos, onde sua utilização é feita para síntese de membranas e hormônios. As LDL são captadas pelas células mediante receptores de membrana especiais, que a célula produz na medida de sua necessidade de importar colesterol. A carência destes receptores, chamados receptores BE, é responsável pela doença chamada hipercolesterolemia familiar, caracterizada por aterosclerose intensa e precoce. As LDL são moléculas menores e muito aterogênicas, pois quando em excesso, são capazes de entrar no endotélio dos vasos e causar acúmulo de colesterol na parede das artérias, gerando as placas de ateroma. Quanto menores forem estas partículas, mais aterogênicas elas serão (pois maior será sua capacidade de penetrar no endotélio).
     As HDL, por sua vez, são um quarto tipo de lipoproteína que originam-se em parte do metabolismo das VLDL e dos quilomícrons pelas lípases lipoproteicas, e em parte do fígado e intestino. No plasma, captam colesterol não esterificado das LDL e das placas ateroscleróticas e o incorporam em seu centro hidrofóbico, entregando-o aos hepatócitos para catabolismo. Agem, portanto como “lixeiros” de colesterol. A concentração de HDL é inversamente relacionada à incidência de aterosclerose coronária, talvez refletindo sua eficiência em remover colesterol.
  Nos pacientes com resistência a insulina, observa-se uma reduzida ação da lipase lipoprotéica na metabolização das partículas de quilomícrons e VLDL. Como consequência, observa-se um acúmulo de partículas ricas em triglicérides, observando uma hipertrigliceridemia nestes pacientes. Como segunda consequência do mau funcionamento da lipase lipoprotéica, ocorre um déficit na formação das HDL, sabidamente protetoras do ponto de vista cardiovascular. Como consequência do aumento das partículas de VLDL no sangue, começa a haver grande troca de colesterol e triglicérides entre as moléculas de VLDL e LDL, pela enzima CETP, responsável por estas trocas no plasma. Formam-se então moléculas de LDL ricas em triglicérides. Estas moléculas possuem alta afinidade por um outro tipo de enzima, chamada lipoproteína lipase hepática, que é capaz de metabolizar estas partículas de LDL enriquecidas em triglicérides, e devolvê-las para o plasma como partículas bem pequenas de LDL. Como consequência, formam-se moléculas de LDL muito pequenas e densas, e por isso mais aterogênicas.

   Desta forma, observa-se que nos pacientes com esteatose hepática, é muito comum observar-se um perfil lipídico muito aterogênico, caracterizado pela hipertrigliceridemia, redução de HDL, e presença de moléculas de LDL pequenas e densas, semelhante ao que ocorre nos quadros de diabetes mellitus tipo 2 e nos quadros de resistência a insulina pura. O acúmulo de ácidos graxos dentro do fígado observado na esteatose gera um quadro de resistência hepática a insulina muito grande, comprometendo todo o metabolismo de nosso organismo e desencadeando um efeito dominó em toda a economia orgânica. 




Referências bibliográficas:


                                                                                                   Post por: Júllia Zenni

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